Approach Consulting

A agricultura no século XXI: Entre a inovação tecnológica e a sustentabilidade ecológica

Setembro 30, 2025
Ludovic Loreau

Num contexto global marcado por crescentes incertezas geopolíticas, alterações climáticas, e, pressões sobre os recursos naturais, o setor agrícola enfrenta um dos maiores desafios da sua história contemporânea: produzir mais com menos, e, de forma sustentável. Esta exigência não se resume a uma mera retórica ambientalista, constituindo sim, uma imperativa reconfiguração estrutural dos sistemas agroalimentares, numa ótica de resiliência, circularidade, e, inovação sistémica.

Em concreto, os desafios do século XXI – como, a título de exemplo, as alterações climáticas, a degradação do solo, a escassez hídrica, e, a crescente volatilidade dos mercados – impõem a necessidade de transitar para uma agricultura de precisão e regenerativa, sustentada por conhecimento técnico-científico e por soluções inovadoras.

É neste contexto que emerge com particular relevância o conceito de agrotecnologiaa convergência entre as ciências agrárias, a engenharia, e, a inteligência computacional, orientada para a otimização dos sistemas produtivos agrícolas.

Ferramentas como a monitorização remota por satélite, os sistemas de gestão agrícola baseados em dados georreferenciados, as plataformas digitais de rastreabilidade alimentar, os bioestimulantes de nova geração, ou, entre outras, as técnicas de agricultura conservacionista, têm vindo a transformar profundamente as práticas agrícolas, permitindo a otimização do uso dos fatores de produção, a mitigação do impacto ambiental, e, o aumento da eficiência energética.

Paralelamente, a consolidação de sistemas de inteligência territorial baseados em dados tem potenciado uma nova forma de planear e executar a atividade agrícola. Plataformas de apoio à decisão, sistemas de previsão meteorológica de alta resolução, modelação de riscos agroclimáticos, e, algoritmos preditivos de pragas e doenças, permitem antecipar variabilidades, otimizar práticas, e, inerentemente, reduzir perdas, incrementando a resiliência operacional das explorações.

No entanto, importa sublinhar que a transição para sistemas agrotecnológicos não se esgota na digitalização ou na automatização de processos. Trata-se, acima de tudo, de um reposicionamento estratégico do setor agrícola, que requer investimento em competências técnicas, investigação aplicada, experimentação em contexto real, e, transferência de conhecimento entre academia, empresas, e, produtores. A agrotecnologia, para criar verdadeiro impacto, deve ser acessível, escalável, e, adaptada às realidades territoriais e climáticas de cada região. Neste sentido, a verdadeira eficácia das estratégias agrotecnológicas e sustentáveis reside na sua capacidade de se moldarem às especificidades territoriais.

A agricultura portuguesa, fortemente marcada pela diversidade agroecológica, exige abordagens diferenciadas que respeitem os saberes endógenos, aproveitem os recursos locais, e, em simultâneo, respondam aos desafios concretos de cada ecossistema. A inovação orientada para o território é, por isso, condição indispensável para a inclusão dos pequenos e médios produtores, bem como, para o fortalecimento da coesão social e económica dos territórios rurais.

Simultaneamente, o conceito de agricultura sustentável ganha expressão não apenas como resposta aos desafios ambientais, mas, como pilar de um novo contrato social entre produção e sociedade. A integração de práticas agroecológicas, a preservação da biodiversidade funcional, o uso eficiente da água, a redução da pegada de carbono, e, o fortalecimento das cadeias curtas de abastecimento, são exemplos concretos de estratégias que conjugam inovação com responsabilidade. A sinergia entre agrotecnologia e sustentabilidade representa, assim, uma via crítica para assegurar a segurança alimentar das populações, o rendimento dos produtores, e, a integridade dos ecossistemas agrícolas. Trata-se de fomentar um setor primário que não só produza mais e melhor, mas que também restaure, preserve, e, valorize o capital natural, contribuindo para a neutralidade carbónica, a justiça social, e, a competitividade do território.

Desta forma, a agricultura do futuro será aquela que conseguir conciliar tecnologia e tradição, ciência e prática, produtividade e preservação. Esta transformação exige coragem política, visão estratégica, e, uma cultura de inovação aberta.

Neste ecossistema, instrumentos estruturantes como o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) assumem particular relevância, ao proporcionarem mecanismos de apoio financeiro, técnico, e, formativo, que promovem a adoção de práticas sustentáveis, a modernização das explorações, e, a valorização dos territórios rurais. Ao alinhar os objetivos ambientais, económicos, e, sociais da agricultura portuguesa com as diretivas europeias, o PEPAC constitui-se como um catalisador da transição sistémica, viabilizando uma agricultura que seja, simultaneamente, resiliente, competitiva, e, regenerativa.

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